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  • Foto do escritorFelipe Vidal

Yasser Arafat

Atualizado: 10 de ago. de 2023

Apesar de ter nascido na cidade do Cairo, no Egito, no ano de 1929, o personagem de hoje é um palestino que foi protagonista do infindável conflito entre Israel e Palestina. Todos que já estudaram o tema de forma mais direta, ou ao menos acompanharam noticiários nos anos 80 e 90, obrigatoriamente passaram pelo nome de Yasser Arafat algumas vezes na vida. O palestino é dono de algumas das mais célebres frases sobre o impasse no Oriente Médio, além de assumir para si um papel de liderança tão esperançosa quanto controversa.


Primeiros anos, estudos e engajamento ativista


A nacionalidade egípcia está longe de ser atribuída pelos biógrafos de Arafat, ainda que se trate do seu local de nascimento. Seu pai era um palestino proveniente de Gaza e nunca obteve sucesso numa longa luta por um pedaço de terra egípcia que pertenceria à herança familiar. Vale pontuar que sua avó paterna era de fato egípcia. Arafat era o segundo filho mais novo de sete crianças e perdeu sua mãe logo aos quatro anos de idade.


Com a deterioração da situação financeira da família, Arafat foi enviado pelo pai para Jerusalém, junto com um de seus irmãos. Lá viveu com um tio por quatro anos e acabou guardando mágoas profundas do pai, com quem não mais voltaria a ter um bom relacionamento.


Jovem Yasser Arafat no Egito

Yasser Arafat estudou na Universidade do Cairo, a partir de 1944, onde se formou engenheiro civil e teve seus primeiros contatos com movimentos políticos organizados. O jovem estudante deixou provisoriamente os estudos no ano de 1948 para se voluntariar na Guerra árabe-islaerense, juntando-se aos árabes contrários à criação do Estado de Israel. Sua atuação se deu em Gaza, servindo diretamente às fileiras da Irmandade Muçulmana.


Com a aparente vitória israelense e alegada falta de apoio, Arafat retornou ao Egito, a fim de terminar seus estudos, e ingressou definitivamente no ativismo ao presidir a União Geral dos Estudantes Palestinos (GUPS).


Fatah e primórdios da vida política


Bandeira do Movimento de Libertação Nacional da Palestina, o Fatah

Mesmo lutando pelo Egito na Crise de Suez, Arafat foi, pouco tempo depois, expulso da Faixa de Gaza pela chegada da Força de Emergência da Nações Unidas, com anuência do presidente egípcio Gamal Abdel Nasser. O palestino se estabeleceu no Kuwait, à época um protetorado britânico, onde reencontrou dois amigos de outros períodos da vida e que não sairiam mais do lado de Arafat em sua carreira política.


Dessa parceria foi criado o Fatah, cuja data de fundação exata é desconhecida, que guarda em sua essência um espírito de "palestinos por palestinos". O Fatah prega a luta armada em prol dos direitos palestinos, mas acima de tudo é enfático ao se colocar pouco — ou nada — simpático às ideologias dos principais governos árabes da época. Era constante a crítica aos movimentos palestinos que convivessem com algum tipo de submissão.


Ataques, conflitos e polêmicas


A atuação de Arafat é transferida para a Jordânia após a Guerra dos Seis Dias, em 1967. A partir dali a ideia era realizar ataques a Israel e obter resguardo em território jordaniano antes que um revide fosse possível. Um ataque israelense ao Fatah, em 1968, deixou centenas de vítimas entre guerrilheiros palestinos, mas rendeu a subsequente retirada de tropas israelenses do local, dando privilégio à vertente de Arafat e o erguendo ao cargo de presidente da Organização para a Libertação da Palestina (OLP).


A ambição da OLP pela anexação da Jordânia tornou o ambiente para o ativismo palestino ainda mais insuportável no território da monarquia haxemita. Após alguns atos de hostilidade de ambos os lados, a ajuda israelense é preponderante para a derrocada da OLP e da Síria, a última em preparação para intervir em prol da causa palestina.


Tal derrota levou Arafat e outros figurões da OLP para o Líbano, uma vez que o governo por lá encontrava-se fragilizado e a situação facilitaria o desenvolvimento de operações bastante autônomas. Essa liberdade de ação acabou culminando no ano de 1972, quando a organização Setembro Negro - comumente vista como braço operacional radicalizado interno ao Fatah - sequestrou onze atletas de Israel durante os Jogos Olímpicos. Dois foram assassinados diretamente pelo grupo e todos outros foram vitimados em confrontos dos sequestradores com policiais alemães. A reação internacional foi das piores e Arafat passou a se distanciar cada vez mais de atos do gênero, chegando a dizer publicamente, em 1974, que a OLP deveria se abster de atos de violência fora de Israel.


Arafat discursa na Assembleia Geral das Nações Unidas em 1974

O ano de 1974 foi especialmente marcante para Arafat, pois tornou-se o primeiro representante de uma organização não-governamental a discursar na Assembleia Geral das Nações Unidas. No mesmo ano, a OLP alcançou reconhecimento, por parte de Estados árabes, como único representante legítimo dos palestinos, sendo inclusive admitida na Liga Árabe dois anos depois.


A Tunísia foi base de atuações de Arafat durante toda a década de 80, quando recebeu apoio de Saddam Hussein a fim de recuperar a força de uma OLP em frangalhos pelas recentes derrotas no Líbano. Em 1988, o líder palestino declarou aceitar a Resolução 242 do Conselho de segurança das Nações Unidas, prometendo reconhecimento futuro de Israel e renúncia ao terrorismo. Tal postura permitiu que houvesse pela primeira vez algum avanço nas negociações da região, uma vez que Israel conduziu negociações abertas com a OLP pela primeira vez em 1991.


Prêmio Nobel da Paz laureado a Yasser Arafat, Shimon Peres e Yitzhak Rabin

Convivendo com frequentes questionamentos ao processo e estagnações temporárias do mesmo, ainda assim as negociações se desenvolveram e culminaram nos Acordos de Paz de Oslo, em 1993, que estipulavam a implementação da autonomia palestina na Cisjordânia e na Faixa de Gaza por cinco anos. No ano de 1994, de maneira tanto controversa quanto inusitada, Yasser Arafat recebeu o prêmio Nobel da Paz, ao lado de Shimon Peres e Yitzhak Rabin, duas lideranças israelenses de proeminência.


Últimos anos e morte


Em 1996, Arafat foi eleito presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), órgão provisório de autogoverno surgido como consequência direta dos Acordos de Paz de Oslo. A partir daí seu caminho seria bastante tortuoso, pois a relação com Israel voltaria rapidamente a estremecer e os Estados Unidos seriam em breve responsáveis por um boicote à sua imagem. Arafat seria obrigado a passar os últimos anos de sua vida preso em Ramallah, na sede da ANP, cercado por forças israelenses.


As múltiplas tentativas do governo israelense de identificar outra liderança palestina para título de negociação nunca obtiveram sucesso. A verdade é que Yasser Arafat seguiu amplamente apoiado, tanto por seguidores quanto por detratores que temiam o enfrentar. O líder recebeu autorização apenas em 2002 para deixar o complexo onde se isolava.


Após alguns dias de internação em hospital militar francês, foi confirmada a morte de Yasser Arafat em 11 de novembro de 2004, aos 75 anos. Ainda que a causa oficial de sua morte seja falência múltipla dos órgãos, existem muitas teorias sobre supostos envenenamentos sucessivos terem debilitado sua saúde.

 

Para saber mais:


- Matéria Relembrando Yasser Arafat, ícone da luta palestina, de Amelia Smith para o portal Monitor do Oriente;


- Livro Arafat: o Irredutível, de Amnon Kapeliouk, publicado pela editora Planeta;


- Livro A questão da Palestina, de Edward W. Said, publicado pela Editora UNESP;


- Quadrinhos Reportagens e Notas Sobre Gaza, do ilustrador e jornalista Joe Sacco, publicados pela Quadrinhos na Cia.

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