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  • Foto do escritorLuiza Azevedo

Tithi Bhattacharya e Teoria de Reprodução Social: por uma economia centrada na vida

Atualizado: 10 de ago. de 2023

A Teoria Feminista é um campo de conhecimento riquíssimo. Ao longo dos séculos, incontáveis mulheres fizeram um trabalho incrível na busca de explicar a sociedade pela ótica do feminismo. Dentre essas mulheres extraordinárias, está Tithi Bhattacharya. Historiadora nascida na Índia, ela trabalha com temas relacionados à história do Sul Asiático e ao feminismo marxista. Hoje, Bhattacharya é professora na Purdue University, em Indiana, nos EUA.


Em meio a seus temas de pesquisa, está a Teoria de Reprodução Social. Quando pensamos no sistema econômico atual, o foco é a produção de coisas com intuito de gerar lucro. Ou seja, o sistema capitalista tem como principal preocupação o trabalho produtivo que gera commodities em nome do lucro e em detrimento da vida. Dessa forma, a geração e a manutenção da vida ficam em último plano.


Quando pensamos na Teoria de Reprodução Social, o foco está nas atividades que dão suporte para a vida, em outros termos, no trabalho reprodutivo. Estamos falando aqui tanto do parto em si, quanto de atividades ligadas à alimentação, à limpeza, à educação. Falamos também de bens físicos e instituições que dão suporte à vida, como casas, transporte público, escolas e hospitais.


É importante notarmos que os trabalhos ligados à manutenção da vida não só têm predominância feminina, como também são desvalorizados. Os salários são mais baixos e as condições piores. E a pandemia escancarou a resposta para uma velha pergunta: qual trabalho é de fato necessário para a manutenção da sociedade? Não são os acionistas, ou banqueiros, mas as enfermeiras, as professoras, as profissionais de limpeza, as trabalhadoras rurais e as funcionárias de supermercado.


Um ponto central nessa discussão é a inconcebível quantidade de trabalho não remunerado que mulheres fazem. A misoginia sistêmica permite que trabalhos domésticos sejam feminilizados e que essas mulheres não recebam pela realização de um atividade laboral basilar na sociedade. Essa mesma lógica torna mulheres grávidas e com crianças pequenas extremamente vulneráveis no mercado de trabalho, ainda que a gravidez e o cuidado sejam o trabalho mais importante de qualquer sociedade. E mesmo assim, realizando um trabalho que literalmente diz respeito a manutenção da espécie, as mulheres são inferiorizadas.


Observamos o embate entre valores nos discursos relativos à recuperação econômica em meio a pandemia. A falsa oposição entre recuperar a economia e preservar vidas virou o mote do governo Bolsonaro. Mesmo sendo falaciosa, a lógica deixa clara do que se trata a ideia neoliberal de uma economia funcional: produzir bens e gerar lucro em detrimento da vida e bem estar das pessoas.


Tendo em vista esse cenário, é importante a reflexão a respeito de que tipo de sociedade queremos construir, uma vez que a riqueza vem da vida e do trabalho humanos. Quais são as bases econômicas que permitem que a vida floresça? Qual deve ser o foco do sistema econômico se buscamos uma sociedade próspera? É possível um sistema no qual as pessoas não apenas sobrevivam, mas sim que vivam suas vidas com dignidade? Basta não perdermos de vista o que de fato é importante.


 

Para saber mais:

Foto: Tithi Bhattacharya, Calcutta, India, 2014, Wikimedia Commons



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