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  • Foto do escritorLuiza Azevedo

Onde foi parar o Sul Global na política externa do governo Bolsonaro?

Atualizado: 10 de ago. de 2023

Desde a redemocratização brasileira o país vinha construindo um caminho louvável na política externa. Como estabelece a Constituição de 1988 para as relações internacionais, valores como o multilateralismo, a soberania e o respeito aos direitos humanos se consolidavam a cada novo presidente. As divergências ideológicas dos governos da Nova República não eram um entrave na busca constante por relevância internacional.


O que vemos na política externa do governo Bolsonaro rompe com a tradição e mancha a imagem respeitada que o Brasil vinha solidificando. A política internacional se tornou uma área na qual a ala ideológica do governo pode prosperar sem grande resistência e esse processo se personifica na figura de Ernesto Araújo. Nesse movimento, o Sul Global, que já foi destaque na diplomacia brasileira, é hoje preterido.


Das regiões que compõem o Sul Global, por motivos óbvios, a América do Sul é a de interesse mais imediato para o Brasil. Na Nova República, o governo Collor deu início a empreitada de uma maior integração regional com as negociações que deram origem ao Mercosul, o que representava a possibilidade de recuperação econômica para a região. Nele, o Brasil ocupava uma posição de destaque, uma vez que o país é a maior economia da América Latina.

FHC passa a faixa presidencial para o presidente eleito Lula [Foto: Lula Marques]

Mais tarde, o governo Fernando Henrique estabeleceu uma base importante para que o governo Lula prosperasse em diversos sentidos, inclusive na política externa. A mudança fundamental que vemos é a transição no eixo de atuação. Se o governo FHC buscava um crescimento associado aos países do Norte Global, ou das economias centrais, o governo Lula mudou o seu foco para os países do Sul Global, ou das economias periféricas.


O Sul Global passou então a ter destaque na política externa brasileira, tanto porque as oportunidades comerciais eram vantajosas para nós, quanto pela possibilidade de exercer um papel de liderança na região. O Brasil passou a ser visto como um importante mediador nas pautas entre o Sul e o Norte, sempre através da cooperação em busca do desenvolvimento para o Sul. Dessa forma, a diplomacia brasileira consolidou o respeito e relevância que vinha construindo há anos.


Ainda que sejam inúmeras as críticas que podem ser feitas à política externa brasileira no Sul Global, o que existia era um caminho pavimentado para o avanço, para a construção de uma relevância cada vez maior da então respeitada diplomacia brasileira.


A ideologia bolsonarista chega com força em 2018. Fundamental para as eleições, uma vez que grande parte dos brasileiros se identificam com os valores de Jair Bolsonaro, no campo nacional a aplicação dessa ideologia encontra alguns entraves, como a atuação de Rodrigo Maia, dinâmica que tem seus dias contados com a iminência da eleição para a presidência da Câmara dos Deputados. Por outro lado, vemos a possibilidade de liberdade quase irrestrita quando falamos da política externa do país.


Dessa forma, Ernesto Araújo não tardou em aplicar nesse campo suas críticas ao globalismo, ao marxismo cultural e uma defesa dos valores ocidentais centrada no governo Trump. Esse processo se mostra no desdém ao multilateralismo, e a atuação para o desmonte do Mercosul é destaque; o abandono na soberania, na submissão completa ao governo Trump; e desdém aos direitos humanos, valor antigo da cartilha de Bolsonaro.


Presidente Jair Bolsonaro e Donald Trump [Foto: O Dia]

Essa mudança de visão para política externa do país implicou no abandono das relações com o Sul Global. O Brasil deixou para trás sua importância na cooperação Sul-Sul para ficar à sombra do governo de Donald Trump. Dessa forma, a nossa diplomacia que já foi referência passou a causar menosprezo, diminuindo consideravelmente nosso poder de negociação no ambiente internacional, situação grave uma vez que estamos em meio a crise sanitária generalizada.


O quadro se agrava com a saída de Donald Trump do poder. O único aliado do país, com o qual não tínhamos relações vantajosas, agora se desconstrói. Isso porque Ernesto Araújo nunca cultivou uma relação com os EUA, mas sim com Trump, que cada dia mais é rejeitado na dinâmica internacional. O partido democrata ganha força e suas críticas ao governo Bolsonaro igualmente. Trocamos então a próspera relação com o Sul Global, pelo isolacionismo e pelo desdém internacional.


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