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  • Foto do escritorMariangela Nuernberg

La Llorona

Atualizado: 10 de ago. de 2023


Uns dias atrás, um de nossos seguidores do Instagram nos recomendou o filme guatemalteco de terror/suspense La Llorona. Após finalmente assistir a essa obra que foi a representante sul-americana na categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira do Globo de Ouro desse ano, nós estendemos a recomendação a todos vocês: que filmão!


Tendo como pano de fundo o genocídio ocorrido nos anos 80 contra o povo indígena guatemalteco Maia Ixil, o filme retrata o julgamento do personagem Enrique Monteverde (baseado no ex-presidente Efraín Ríos Montt), um general aposentado que liderou os militares durante o massacre, e o que acontece após a sua absolvição. Monteverde passa a ser perturbado pelo pranto de uma mulher, enquanto sua esposa e filha, que não acreditavam no envolvimento dele com o genocídio, acabam envolvidas em seu passado de uma forma bem impactante após a chegada de uma nova funcionária.


O povo Ixil é um dos 22 povos maias que formam aproximadamente metade da população guatemalteca. Entre março de 1982 e agosto de 1983, no meio da guerra civil da Guatemala, os ixis foram massacrados sob a “justificativa” de serem colaboradores da guerrilha que lutava contra o governo militar. Ao longo dos 36 anos do conflito, 45 mil pessoas ainda estão desaparecidas e 200 mil morreram, dos quais 89% eram indígenas.


Em 2013, durante o julgamento do ex-presidente Efraín Ríos Montt, mais de 100 testemunhas, principalmente mulheres, relataram os horrores cometidos pelos soldados contra o povo maia, desde morte por inanição e estupros, à famílias queimadas vivas e bebês torturados. Diferente do filme, neste julgamento Ríos Montt foi condenado a 80 anos de prisão, 50 por genocídio e 30 por crimes contra a humanidade cometidos durante os 15 meses que governou o país.


Segundo Rosalina Tuyuc, fundadora da Coordenadoria Nacional de Viúvas da Guatemala (CONAVIGUA), a tragédia do povo maia nunca foi objeto de debate no país. "É parte do racismo estrutural, do racismo histórico e do racismo ideológico, que leva a minimizar o ocorrido, a querer desconhecer e ocultar e até a dizer: por que os índios não são exterminados, se só representam um fardo para o Estado?", disse Tuyuc, em entrevista para a BBC Mundo, em 2013.


Por isso a importância de La Llorona apresentar esse debate para o mundo. Para o diretor do filme, Jayro Bustamante, "não há mais lugar para histórias maniqueístas diante de uma plateia com tanto acesso à informação como temos hoje. O único ponto que dispensa a necessidade de explicações é o fato de a discriminação ser o grande mal dos países latinos. As populações indígenas de nosso continente, por exemplo, são desapropriadas de suas posses e invisibilizadas. (...) O cinema que eu faço é uma forma de dar visibilidade à brutalidade que sofremos", disse em entrevista ao Estadão.

 
 

Para saber mais:


- Matéria 'La LLorona' usa folclore latino para tratar de um genocídio, de Rodrigo Fonseca para o portal Terra;


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