O termo Girmityas era utilizado para caracterizar os indianos que participaram do sistema de escritura indiano, durante o período colonial. Esse foi um sistema de servidão contratada, pelo qual dois milhões de indianos foram levados para trabalhar nas plantações em colônias europeias espalhadas pelo mundo. Foram usados como substitutos do trabalho escravo, logo após a abolição do tráfico institucionalizado de pessoas, no início do século XIX.
Neste sistema, os empreendimentos estabeleciam um contrato de servidão por dívida. A servidão contratada costumava ser brutal, com uma alta porcentagem de mortes antes do vencimento de suas contratações. A permanência na Índia desse sistema foi até 1917, quando foi banido e hoje os sistemas de trabalho contratado são proibidos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos como uma forma de escravidão. Esse período resultou em uma grande diáspora indiana por todo o mundo, especialmente no Caribe e na África do Sul. Hoje, a cidade de Durban, na África do Sul, é a cidade com mais indianos fora da Índia. Foi inclusive a casa de Mohandas “Mahatma” Gandhi, onde exerceu a advocacia e começou seu processo político.
Esse sistema foi resultado direto da corrida imperialista europeia do século XIX. Os europeus já tinham explorado a América, o tráfico de pessoas escravizadas da África e o comércio de especiarias da Ásia. Mas foi a partir da metade do século XIX que a Europa se torna de fato o continente mais poderoso do mundo. Com o sucesso da Revolução Industrial, as fábricas passam a produzir a todo vapor. É preciso então encontrar novos mercados consumidores, obter mais matérias primas e novos negócios para investir esses capitais. Dessa forma, com a justificativa de superioridade civilizacional defendida pelo darwinismo social, os europeus vão partilhar entre si, o que conhecemos hoje por Sul Global em colônias e zonas de influência. Essa ótica, chamada por eles na época de fardo do homem branco, vai estabelecer uma corrida por essas riquezas, culminando na Primeira Guerra Mundial, além de uma visão de superioridade racial que nos traz a Segunda Guerra Mundial. Todo esse processo vai deixar profundas marcas culturais, políticas e econômicas nas sociedades dominadas, algo que resulta na profunda diferença estrutural de desenvolvimento até hoje entre o Norte e Sul.
Para saber mais:
- Livro Os Indianos, de Florência Costa, publicado pela Editora Contexto;
- Livro História Concisa da Índia Moderna, de Barbara Metcalf e Thomas Metcalf, publicado pela Edipro;
- Vídeo Imperialismo no Século XIX - Neocolonialismo, no canal do Professor Eloir no YouTube;
- Matéria “African” or “Indian”? The Treatment of Indians as a Minority Population in Sub-Saharan Africa, na página The Africa Collective;
- Matéria The Girmityas of the Caribbean, de Mayur Muiki para o portal Live History India.
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