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  • Foto do escritorLuiza Azevedo

Feminismo e antirracismo: O olhar de Lélia Gonzalez

Atualizado: 17 de nov. de 2020

Falar de feminismo sem falar de raça é reduzir o debate à experiência branca. Isso porque a colonização, que marca nossa história, se fez por meio da lógica racista que existe até hoje. A antropóloga Lélia Gonzalez no seu ensaio Por um feminismo Afro-latino-americano elabora essa visão.


Lélia é uma intelectual fundamental para entendermos a formação de identidade brasileira e o papel do racismo nela. A autora produziu nas áreas da antropologia, psicologia, sociologia, história, entre outras. Nascida em Belo Horizonte em 1935, faleceu no Rio de Janeiro em 1994.


Uma das perversidades do racismo é a universalização da experiência branca, ou seja, uma categoria generalizante como mulher remete a mulheres brancas. Essa lógica está presente no movimento feminista, sendo assim, as necessidades das mulheres brancas se tornam o foco.


A antropóloga recorre a um ditado popular para explicitar como a sociedade se relaciona com mulheres negras: “branca para casar, mulata para fornicar e negra para trabalhar”. É imposto à elas o lugar da força de trabalho, ou do corpo que existe apenas para o sexo.


A experiência latino-americana tem esse traço comum: a colonização e seus resquícios. Dessa forma, é compartilhado entre mulheres negras e indígenas a invisibilização de suas demandas. O feminismo na América Latina acaba tendo então um caráter excludente.


Portanto, mulheres racializadas com frequência tem sua base no movimento racial e não no movimento feminista, uma vez que é frequente dentro das organizações feministas o silenciamento de mulheres negras e indígenas, principalmente quando pautam as opressões raciais.


Consequentemente, essa mulheres, que Lélia chama de amefricanas e ameríndias, buscam uma atuação com base étnica: movimentos de mulheres negras e movimentos de mulheres indígenas.


O racismo no movimento feminista impede que esse seja um movimento pelos direitos de todas as mulheres. Para reverter essa lógica, o anti-racismo precisa estar presente em todos os debates feministas. Isso se traduz na compreensão de que as problemáticas sociais afetam de maneiras distintas mulheres de raças distintas, logo não existem soluções universais. Dessa forma é possível alcançar um feminismo de todas e para todas as mulheres.

 

Para saber mais:


- Livro Por um feminismo afro-latino-americano, que compila textos de Lélia Gonzalez, publicado pela Editora Zahar;


- Livro Retratos do Brasil Negro: Lélia Gonzalez, de Alex Ratts e Flavia Rios, publicado pela Selo Negro Edições;


- Matéria Livros e Textos de Lélia Gonzalez, do Portal Geledés;


- Vídeo A história e o legado de Lélia Gonzalez, do canal Brasil de Fato no YouTube.

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