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  • Foto do escritorFelipe Vidal

Diplomacia médica cubana como soft power durante a pandemia de COVID-19

Atualizado: 17 de nov. de 2020


Desde o início do governo revolucionário, nos anos 50, líderes cubanos consideram a saúde universal e gratuita como um direito humano fundamental, estabelecendo na nova Constituição do país a responsabilidade do Estado em garantir esse direito.


Entre os membros do governo que ascendia ao poder, era comum se dizer que, de forma metafórica, a saúde da população representava a saúde do corpo político. Esse ideal levou ao desenvolvimento do sistema nacional de saúde que se transformou em um modelo mundialmente respeitado.


Melhoras em indicadores extremamente importantes, como o índice de mortalidade infantil e expectativa de vida, os quais hoje se assemelham aos dos Estados Unidos, apesar de todos os embargos, chamaram atenção até mesmo de órgãos como a OMS e a Organização Pan-Americana da Saúde.


Pertencente a uma elite pouco conectada aos ideais revolucionários, a maior parte da classe médica cubana da época deixou o país a partir de 1959. No entanto, o que poderia ser um desastre acabou visto como uma oportunidade de reformar o setor priorizado por Fidel Castro.


Extrapolando esse conceito ao nível internacional, o governo cubano considerou a cooperação Sul-Sul como dever, em retribuição ao apoio na Revolução. Em meados dos anos 80 já eram formados mais médicos do que o necessário para seu próprio sistema, servindo como moeda diplomática.


Tanto prestígio político quanto retorno material foram obtidos com essa prática ao longo do tempo. Um dos casos mais emblemáticos foi a parceria firmada entre Hugo Chávez e Fidel Castro, onde médicos iam e petróleo voltava, algo essencial para superar os embargos sofridos pela ilha.


Esse caso se notabilizou também pela garantia de sustentabilidade fornecida por Cuba, ao capacitar 40 mil médicos venezuelanos e promover bolsas para 10 mil outros estudarem em Cuba. O Brasil também recebeu médicos cubanos através do programa Mais Médicos, promovido pelo Governo Federal.


Iniciado em 2013, o programa visava suprir carência de atendimento médico no interior do país e em regiões periféricas das grandes cidades. Apesar das ocorrências de abandono da função, geralmente motivadas por deserções e pedidos de asilo, o saldo é considerado bastante positivo.


Estatísticas apontam que 24,6% da população brasileira obteve acesso inédito à atenção básica devido ao programa. No entanto, divergências ideológicas com o presidente brasileiro recém-eleito fizeram com que Cuba retirasse sua participação do programa em novembro de 2018.


Sob alegação de que “(...) seus salários financiavam a ditadura de Fidel”, Jair Bolsonaro disse estar disposto a acolher possíveis desertores e com isso a partida de médicos cubanos acabou sendo só um dos pontos do tensionamento nas relações com a ilha.


Apesar dos esforços para recompor o quadro consideravelmente diminuto, a crise sanitária causada pela pandemia de COVID-19 escancarou dificuldades do sistema de saúde brasileiro e fez com que mais de 7 mil médicos cubanos fossem convocados a reintegrar o quadro médico nacional.


A crise sanitária global vem trazendo ao destaque a diplomacia médica praticada por Cuba, cuja enviou seus profissionais para uma série de países mais afetados, como a Itália. Tal prática foi inclusive replicada pelo governo chinês, ao oferecer ajuda a outros tão logo se recuperava de seu surto inicial.

 

Para saber mais:


- Livro Cuba: Medicina y Revolución, de Luis Ovidio González e José Luis Comas, publicado pela Eriginal Books;


- Matéria “Diplomacia branca” com médicos rende 42 bilhões de reais a Cuba por ano, de María Antonia Sánchez-Vallejo, traduzida para o El País Brasil;


- Reportagem Campanha pelo Nobel da Paz para médicos cubanos cresce ao redor do mundo, de Lu Sodré para o portal Brasil de Fato.

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