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  • Foto do escritorLuiza Azevedo

BRICS, vacinação e a diplomacia brasileira

Atualizado: 10 de ago. de 2023


Lula e líderes do BRIC discutem formas de ampliar influência na economia global [CUT, 2009]

A ideia dos BRICS nasce de um artigo de 2001 escrito por Jim O'Neill, “Building Better Global Economic BRICs”. O economista-chefe do banco Goldman Sachs, via no Brasil, Rússia, Índia e China países com uma perspectiva de crescimento capaz de transformá-los em grandes agentes no cenário internacional. A partir daí, os países emergentes aderem ao conceito e adicionam ao grupo a África do Sul, por questões geopolíticas. O grau de institucionalidade do bloco foi crescendo na medida que as relações entres os países foram se intensificando.


O Brasil representava para o bloco uma liderança na América do Sul. O contexto internacional do começo dos anos 2000, com a alta no preço das commodities, garantiu o crescimento econômico do nosso país. Além do lugar de destaque da diplomacia brasileira que, na época, posicionou o Brasil como porta voz dos países em desenvolvimento.


Hoje, o contexto é outro. Por um lado, Brasil e África do Sul não atenderam as expectativas de crescimento e ficaram para trás dentre os países do bloco. Por outro lado, a China destoa com um crescimento econômico astronômico, chegando a ser a maior economia do mundo quando seu PIB é calculado em termos de Paridade do Poder de Compra. O descompasso entre os países reacende questionamentos sobre validade do bloco que vêm desde sua criação.


Ernesto Araújo, Jair Bolsonaro e Paulo Guedes em reunião da cúpula dos BRICS. Foto: Marcos Corrês, BR Político

Independente disso, os BRICS ainda são uma realidade e uma oportunidade para o Brasil na crise sanitária causada pela pandemia do coronavírus. Rússia, China e Índia são atores centrais na corrida da vacinação global. Rússia com a Sputnik V, China com a CoronaVac e Índia com a AstraZeneca. São países que apostaram na pesquisa como saída para a crise e tem capacidade industrial para a produção das vacinas e de seus insumos.


Desde os anos 60 e com variações a cada governo, a busca por atender aos interesses nacionais a partir do universalismo e da resolução pacífica de conflitos pareciam princípios consolidados na política externa brasileira. Contudo, o atual ministro das relações exteriores, Ernesto Araújo, estabeleceu uma nova postura para a diplomacia brasileira. Sua busca pelo resgate dos “valores ocidentais” submeteu os interesses nacionais ao trumpismo e a ideologia de extrema direita.


Dessa forma, as relações com a China vem se desgastando por ofensas gratuitas proferidas por agentes brasileiros, o que vira um entrave nas negociações para o nosso acesso à vacina. Além disso, o Brasil, que já foi grande defensor da quebra de patentes para a garantia a saúde pública, o que inclusive possibilitou nosso papel exemplar no tratamento do HIV, se opôs a proposta indiana de quebra das patentes de vacinas para a covid-19 em apoio aos EUA.


Vemos oportunidades perdidas de defesa dos interesses da população brasileira na nossa política externa. Pior que isso, um movimento que busca ativamente minar esses interesses. Os BRICS são uma possibilidade para o Brasil de alinhamento a países chave para a garantia da saúde nacional. Nesse sentido, é primordial que a nossa diplomacia aproveite as relações construídas e retome valores de uma política externa independente. É o caminho para que os brasileiros não sejam abandonados à própria sorte e tenham seu direito à saúde garantido.


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