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  • Foto do escritorFelipe Vidal

A guerra particular de um japonês nas Filipinas

Atualizado: 17 de nov. de 2020


O envolvimento do japonês Hiroo Onoda (小野田 寛郎) com o militarismo vem de antes mesmo de seu alistamento, pois seu pai foi sargento de cavalaria na Guerra Sino-Japonesa, ocasião na qual foi morto. Ansioso por seguir a linhagem guerreira de sua família, Onoda alistou-se aos 18 anos de idade no Exército Imperial Japonês, que um ano mais tarde entraria na Segunda Guerra Mundial.


Com o treinamento recebido no pouco tempo que teve, o pelotão de Onoda foi enviado, em dezembro de 1944, para Lubang — uma pequena ilha nas Filipinas — com o objetivo de retardar a chegada de tropas estadunidenses em solo japonês. Com o fracasso rápido de sua missão, o oficial recrutou outros três soldados para que batessem em retirada e formassem uma guerrilha na mata fechada da região.


A guerra entre Japão e EUA chegou ao fim ainda em agosto de 1945, tornando sem propósito o plano traçado por Onoda. No entanto, a falta de combates na região não foram o suficiente para convencê-lo da rendição japonesa. A tática de guerrilha japonesa era conhecida pela contraespionagem estadunidense, então folhetos anunciando o fim do combate foram distribuídos, mas nem mesmo eles o convenceram.


O primeiro aliado a deixar Onoda se rendeu às forças armadas das Filipinas em 1950, tornando o caso conhecido externamente. A pedido dos EUA, familiares do oficial enviaram fotos e cartas pedindo seu retorno, mas o mesmo interpretou que seus entes queridos estariam agindo sob tortura. Enquanto isso, o combatente japonês seguiu confrontando policiais e civis filipinos em sua guerra particular.


Após ter perdido seus dois últimos companheiros de luta, já em 1974, Onoda recebeu a visita de Norio Suzuki (鈴木 紀夫), um aventureiro japonês que realizava um projeto de volta ao mundo. A história já era famosa em seu país natal e gerava certa comoção, mas o combatente afirmou que só se renderia caso recebesse uma ordem de um oficial de patente superior lhe ordenando tal ato.


Ciente de suas condições, o governo japonês enviou o major que havia levado Onoda até Lubang, décadas antes, para que o libertasse desse mundo paralelo. Assim, em março de 1974, já com 52 anos, Onoda recebeu ordem para abaixar a guarda. Ainda que desconfiasse de uma armadilha, o oficial cumpriu sua palavra e retornou ao Japão com honras de herói.


Sua vida após o abandono do posto nas Filipinas é uma epopeia por si só, pois inicialmente se tornou um político à direita do espectro político japonês, pregando valores dos tempos de guerra e, em 1975, se mudou para o Brasil, se dedicando à criação de gado. Onoda faleceu aos 91 anos, em 2014, como penúltimo dos soldados a se render na Segunda Guerra Mundial, pois um outro caso tão curioso quanto — o de Teruo Nakamura (中村 輝夫) — veio à tona posteriormente.

 

Para saber mais:


- Livro Sem Rendição, escrito pelo próprio Hiroo Onoda descrevendo sua saga, publicado pela editora Bibliex;


- Matéria Hiroo Onoda, o soldado japonês que não quis se render, de Jacinto Antón para o jornal El País;


- Matéria Hiroo Onoda, o soldado que continuou lutando na Segunda Guerra mesmo após 29 anos de seu fim, de Fabio Previdelli para o portal Aventuras na História.

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