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  • Foto do escritorCesar Henrique de O. Costa Jr

A arte do "diálogo com o inimigo"

Atualizado: 16 de out. de 2023

Sérgio Vieira de Mello, brasileiro e diplomata, foi um dos funcionários mais famosos da ONU, onde atuou por 34 anos. Especialmente, por ter liderado a missão do Timor Leste, uma das de maior destaque da organização. Porém, vamos falar sobre sua polêmica passagem no Camboja, que foi um divisor de águas em sua carreira, e que nos faz refletir.


Sua atuação no Camboja projetaria seu nome e sua principal arma, o diálogo. Sérgio chegou em um país esfacelado pela guerra civil e tirania, com uma responsabilidade: organizar o retorno de 370 mil refugiados. Um regresso que dependia, também, da boa vontade do Khmer Vermelho.


O Khmer Vermelho nasceu em meados do anos 1950, como um movimento comunista fundado por Pol Pot e Ieng Sary. Se apoiava no ódio ao governo central, aos EUA, que o sustentava, e ao capitalismo em si. Em 1975, o Khmer Vermelho marchou até a capital Phnom Penh para tomar o poder.


O que aconteceu foi um espetáculo de autoritarismo e desumanidade. A sangrenta ditadura pró-EUA deu lugar à tirania comunista. Um governo marcado por terror sem precedentes. Mostrando que o autoritarismo e o derramamento de sangue independiam da ideologia. Provocaram uma diáspora, forçando famílias a migrarem para o campo com a ideia de redefinir a sociedade sem diferenças classistas. Ninguém voltou. Famílias foram separadas e indivíduos submetidos a trabalhos forçados. De uma população de cerca de 7,2 milhões, morreram entre 1,5 e 3 milhões de pessoas. O governo chegou ao fim em 1979.


Quando o também comunista Vietnã conseguiu expulsar o Khmer Vermelho, o movimento fugiu para as montanhas e o país entrou numa profunda guerra civil até se definir um acordo de paz. Sérgio chegou em 1991, o país estava fatiado entre diversas facções. O obstáculo ainda era o Khmer, com isso, Sergio tomou a decisão mais arriscada de sua vida e carreira, se encontrar com a liderança do grupo. A proposta foi tida como loucura na ONU. Nunca um funcionário tinha se reunido com um grupo responsável por tantas mortes e violações de direitos humanos.


O brasileiro sabia que não haveria solução sem a concordância do grupo e sentia-se capaz de persuadi-los. Era necessário "dialogar com o inimigo" para atingir o objetivo. No fim, conseguiu convencer os rebeldes a liberar os refugiados, tendo que fazer determinadas concessões.


A reflexão que fica é, até onde vão o idealismo e o pragmatismo? Sérgio teve que negociar e fazer concessões ao Khmer. Com isso, conseguiu que milhares pudessem voltar para suas casas. É ilegítimo ceder para o grupo ou a arte de dialogar com o "inimigo" também é necessária?

 

Para saber mais:


- Livro Sergio Vieira de Mello: o Legado de Um Herói Brasileiro, de Wagner Sarmento, publicado pela editora Olhares;


- Documentário Sergio Vieira de Mello: o Legado de Um Herói Brasileiro, adaptando o livro homônimo e produzido pela ZAZ Produções.

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